Com anos de experiência na política local, Luís Encarnação acredita que a participação dos estrangeiros residentes em Portugal nas eleições autárquicas é importante para a sua integração, sobretudo os que vêm trabalhar e ajudar a economia local.
The Portugal News (TPN): O CHEGA! está a ganhar muitos apoiantes em Lagoa. Como é que o Partido Socialista (PS) aqui em Lagoa está a encarar a situação?
LE: Antes de mais, com toda a humildade democrática, o povo falou, e, portanto, deixou uma mensagem muito clara, e nós temos que aceitar, como é evidente, os princípios da democracia, são os pilares do PS, e a primeira conclusão é que temos que respeitar a vontade do povo. Estamos agora na fase de reflexão, para perceber o que aconteceu e perceber porque é que as pessoas votaram no partido Chega. Estamos a tentar perceber porque é que estão descontentes com as políticas dos últimos tempos, fazendo uma reflexão interna. Temos de perceber se o descontentamento das pessoas que votam no Chega é em relação às políticas nacionais ou se tem algo a ver com as políticas locais.
No concelho de Lagoa, o PS está a cumprir o nosso mandato, o manifesto e o programa que foi eleito por uma larga maioria dos lagoenses, com mais de 50% dos votos. Queríamos recuperar a economia após a Covid-19 e ainda lidar com os riscos que tínhamos da Covid-19, o que foi feito. Tínhamos dois objectivos, como a substituição da distribuição de água no concelho e a melhoria da eficiência hídrica. Estamos agora a substituir as condutas. Acabámos de substituir três condutas, as mais importantes, as que perdiam mais água e que tinham os maiores problemas de rutura. Agora estamos a pavimentar as estradas, como sempre prometemos, depois de substituirmos as condutas.
TPN: Poderia descrever a comunidade estrangeira que reside em Lagoa?
LE: Na minha opinião, temos aqui duas situações diferentes, dada a considerável comunidade estrangeira na Lagoa. São cidadãos que não nasceram em Lagoa, no Algarve ou em Portugal.
Escolheram Lagoa pelas suas condições, pela beleza natural, pela tranquilidade, pela segurança, pela gastronomia, pelos nossos vinhos, pela forma como os lagoenses gostam de viver. Penso que eles estão perfeitamente integrados e escolheram Lagoa para viver. Ou porque são reformados, ou porque têm algum negócio aqui, e acho que essas pessoas estão perfeitamente integradas.
Depois temos outro tipo de residentes estrangeiros, os imigrantes, que vieram trabalhar para as nossas unidades hoteleiras, para os restaurantes, nas empresas que fazem a limpeza urbana e a recolha de resíduos urbanos. Já não são da Europa; a sua maioria já é de países asiáticos.
TPN: Qual a importância desta comunidade para o município?
LE: Os residentes, os estrangeiros no Concelho de Lagoa são muito importantes para nós porque constituem a nossa comunidade, vêm também de alguma forma dar esse contributo para dinamizar a economia local, na sua maioria, sobretudo aqueles que são do Centro e Norte da Europa e mais recentemente também do Canadá e dos Estados Unidos e outros, de outras zonas do globo. São maioritariamente pessoas que têm aqui uma segunda casa, com um poder de compra acima da média e, obviamente, são importantes para dinamizar a economia local.
No caso dos residentes mais recentes, os imigrantes, que vieram para cá sobretudo para trabalhar, também são importantes, porque sem eles não teríamos mão de obra suficiente para trabalhar nas nossas unidades hoteleiras, e mão de obra suficiente para trabalhar na limpeza urbana e na recolha de resíduos urbanos e nas actividades agrícolas, porque também temos aqui muitos que trabalham em actividades ligadas à agricultura.
TPN: Acha que a vitória do Chega nas eleições nacionais, na Lagoa, pode afetar a forma como os imigrantes são recebidos pelos lagoenses?
LE: Até ao momento, não tenho registo de actos racistas ou xenófobos, mas isso é uma preocupação, sobretudo pelos valores humanistas que temos de defender. É necessário, e espero que sim, respeitar aqueles que estão aqui para trabalhar, que estão aqui para ajudar a nossa economia e que são importantes para a nossa economia.
Acho que devemos respeitá-los e devemos integrá-los na nossa comunidade, embora perceba que há outros assuntos relacionados com esta questão, que acho que são os que depois suscitam estes actos e estas reacções, que são aqueles que não vêm trabalhar.
Eu percebo essas questões, mas quem vem trabalhar e ajudar a nossa economia é bem-vindo; portanto, acho que deve haver essa preocupação de perceber, de fazer essa distinção, e de acolher quem está cá para trabalhar.
TPN: O que é que o município tem feito para acolher e integrar esta comunidade estrangeira?
LE: Eu acho que há aqui uma integração natural. Tentamos também, por exemplo, na nossa programação cultural, encontrar aqui alguns espectáculos, alguns eventos que sejam mais para esta comunidade, que se enquadrem nas suas opções culturais, nas suas opções musicais, tentando ter aqui uma programação versátil, diversificada, que tenha em conta não só aquilo que são as preferências daqueles que já cá estão, mas também daqueles que escolheram o nosso território para viver.
Dizemos com algum orgulho que Lagoa é uma cidade cosmopolita, e é esse cosmopolitismo que também nos dá essa notoriedade, e que faz essa diferença, e que também torna o nosso território atrativo.
Temos também, através do nosso centro Qualifica, cursos de língua portuguesa para não nativos, no sentido de ajudar também a sua integração.
TPN: Qual é a importância do voto da comunidade estrangeira para as eleições autárquicas?
LE: É muito importante porque se eles residem no nosso concelho, e na maior parte dos casos residem aqui, mais de metade do ano, ou seja, todos os anos, têm uma presença efectiva no nosso espaço local, acho que devem também participar naquilo que são as decisões, a começar pela escolha de quem vai governar, de quem vai liderar as decisões do concelho. Acho que aqueles que aqui vivem, desde que tenham esse direito, devem usar o seu voto para ajudar a escolher as melhores propostas para o desenvolvimento do concelho.
TPN: Porque é que é tão importante para os estrangeiros terem esta participação ativa nas eleições?
LE: Porque é também uma forma mais fácil de integração, porque se participarem no ato eleitoral, estão mais perto de se integrarem naquilo que é a nossa comunidade e de participarem na vida da sociedade. Acho que o voto é importante para isso, porque é uma forma ativa de participar. É também um sentimento de pertença, e eu pertenço a esta comunidade, e participo nela.