“A consulta pública sobre o RECAPE [Relatório de Conformidade Ambiental do Projeto de Execução] da usina de dessalinização no Algarve viola o direito à participação cidadã, e o tribunal suspendeu o período de participação concedido pelas entidades oficiais”, afirmou a Plataforma Água Sustentável (PAS) em um comunicado.
De acordo com a plataforma, o RECAPE não está disponível para participação no Portal Participa porque, na terça-feira, o Tribunal Administrativo de Loulé “ordenou a suspensão do período de consulta pública que estava em curso, por não cumprir a legislação nacional”.
O PAS considera que a forma como esta consulta está sendo conduzida representa um “profundo desrespeito pela democracia participativa, colocando obstáculos significativos ao acesso à informação e à possibilidade de análise e intervenção informadas dos cidadãos e da sociedade civil”.
Os ambientalistas fornecem vários exemplos que demonstram que a documentação disponibilizada para consulta é “desorganizada e incompatível com os princípios básicos de transparência exigidos por lei”, diz a nota.
De acordo com o PAS, mais de 400 documentos foram disponibilizados para análise em um período extremamente curto de apenas 14 dias úteis (3 a 23 de julho), e alguns documentos têm partes escritas em diferentes idiomas (português, espanhol e inglês).
Os ambientalistas também afirmam que os documentos são apresentados ao acaso e que os títulos dos documentos não identificam claramente seu conteúdo, com centenas de documentos com títulos idênticos.
O PAS decidiu levar o caso a órgãos europeus, como a Comissão Europeia, o Parlamento Europeu e o Comitê da Convenção de Aarhus, por considerá-lo uma grave violação dos princípios de transparência, participação e justiça ambiental.
A construção de uma central de dessalinização no município algarvio de Albufeira, com um custo base de 90 milhões de euros, é uma das medidas em resposta à seca que afeta o sul de Portugal. Espera-se que a instalação tenha uma capacidade inicial de 16 hectômetros cúbicos para converter água do mar em água potável
.De acordo com a Águas do Algarve, empresa responsável pelo abastecimento de água da região e pela gestão de infraestruturas como barragens e estações de tratamento de águas residuais (ETAR), a conclusão do projeto está prevista para o final de 2026.
O PAS é composto por 13 organizações não governamentais, nomeadamente A Rocha Portugal, Água é Vida, ALBio — Associação Agroecológica do Algarve, Almargem — Associação para a Defesa do Património Cultural e Ambiental do Algarve, CIVIS — Associação para o Aprofundamento da Cidadania e Ecotopia — Associação para o Desenvolvimento Ambiental e Sustentável.
Além disso, os membros da plataforma são FALA — Fórum Ambiental Costeiro do Alentejo, Faro 1540 — Associação para a Defesa e Promoção do Património Ambiental e Cultural de Faro, Glocal Faro, a Liga para a Proteção da Natureza (LPN), a Associação para o Barrocal Algarvio (Probaal), a Quercus — Associação Nacional para a Conservação da Natureza, o grupo REGAR e a ZERO — Associação do Sistema Terrestre Sustentável.
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